domingo, 17 de julho de 2011

CAPÍTULO X

   Capitulo X


    Diana sentia-se sozinha naquela semana em que Raquel tinha ido ao Faial e Duarte não lhe atendia o telemóvel. Não sabia que turno lhe estava destinado no hospital e sentiu que a vida de Duarte lhe estava a escapar. Antes sabia todos os passos do namorado com uma antecedência natural e agora estava desesperada porque não conseguia contactá-lo e pior, nem sabia qual a melhor altura para fazê-lo. A última vez que falara com ele foi há quase uma semana, na véspera do jantar no hotel. Diana fazia um esforço de memória, mas não se conseguia recordar dele ter mencionado nada acerca dos seus planos para a páscoa ou do trabalho que ia fazer. Só tinham falado nela e na vida excitante que ela agora levava. Aliás, Diana não se conseguia lembrar da última vez que haviam falado de Duarte ou da sua rotina no Faial. Nem conseguia recordar-se em que serviço do hospital é que ele estava nos últimos tempos. Este desespero crescente de falta de notícias e de informação estava a evidenciar um lado egoísta de Diana, que a rapariga não queria aceitar. As coisas apenas se proporcionaram assim. Ela ficava muito feliz quando Duarte vencia uma determinada etapa da sua vida, e apoiava-o sempre que ele precisava de lutar para chegar a um determinado objectivo. Só não se conseguia lembrar de uma única ocasião em que ela o tenha apoiado para que ele conseguisse atingir um objectivo de vida. Agora que pensa nisso o único desejo que conhece em Duarte é a vontade incomensurável de começar uma vida com ela, com a namorada que tem deixado a vida dele passar-lhe ao lado. Diana sentiu um incómodo crescente que lhe subia pelas entranhas e a sufocava em soluços altos e repetidos. Queria tanto compensar Duarte e ele não lhe atendia o telemóvel. E se lhe tivesse acontecido alguma coisa? Não se conseguia lembrar da última vez que disse que o amava… Ou se alguma vez o tinha dito…
- Estou? Pedro? – Diana mostrava uma voz desesperada para grande preocupação do irmão que lhe atendia o telemóvel com uma voz arrastada.
- Então princesa? Está tudo bem?
- Não consigo falar com o Duarte há uma semana. Sabes dele?
- Ele foi passar a Páscoa fora da ilha. Pensei que tivesse ido ter contigo. – Pedro tentava ordenar as ideias de forma a poder ser mais útil à frustração da irmã.
- Não veio ter comigo, como é evidente!
- Mas ele andava tão misterioso… E tinha férias na Páscoa… Isso eu sei que tinha… E…
- Misterioso como? Será que andava com algum problema?
- Não, princesa! Ele até andava feliz, mas não dizia porquê, como se estivesse a preparar alguma surpresa boa… Era mais esse tipo de misterioso.
    Diana prolongou o silêncio que se seguiu sem desligar o telefone. A cabeça dela pesava toneladas e as ideias não fluíam como habitualmente.
- Fazes-me um favor Pedro?
- Claro mana… Tudo o que precisares.
- Amanhã vai ao hospital e pergunta se sabem alguma coisa… Ou pelo menos em que data é que ele regressa ao serviço…
- Fica descansada! … Talvez tenha ido à Terceira… Ele estava sempre a dizer que queria falar de ti àquele padre que o criou. – Pedro tentava dar um último descanso à irmã. – Até dizia que queria que fosse ele a casar-vos assim que terminasses o curso…
    Diana agarrou-se àquela suposição com a força da verdade e convenceu-se de que estava a ser palerma. Ele só não lhe tinha dito que ia à Terceira porque ela não lhe deu oportunidade para isso. Sempre a falar dos problemas dela, dos objectivos dela, dos sonhos dela… Diana fez uma promessa interior… Que a partir do momento em que voltasse a ter um contacto com Duarte passariam a partilhar sonhos e projectos de vida em igual medida.
    A noite foi dormida num pesadelo acordado, em que imagens de acidentes lhe passavam pela mente sempre com a cara de Duarte em evidência. A escuridão foi vivida numa ansiedade sôfrega e o dia chegou devagar para tormento da espera prolongada. Diana saiu de casa com o pensamento longe, levando o quotidiano inalterável sem sequer pensar nas suas acções. Entrou no hotel distribuindo cumprimentos matinais sem reparar a quem. Quando finalmente o telemóvel tocou e Diana atendeu-o sem dar oportunidade de pronúncia de um segundo toque.
- Estou! Princesa! É o Pedro.
- Então? Foste ao hospital? Já sabes alguma coisa?
- Já!... – Pedro fez uma pausa e inspirou fundo preparando-se para dar um desgosto à pessoa que mais amava na vida. – Tens de ser forte para o que te vou dizer!
- Aconteceu alguma coisa de grave ao Duarte! – Diana sentia a aflição na sua voz e a ansiedade da resposta no seu peito.
- Não! Fica descansada…
- Então? O que é que se passa Pedro? Desembucha homem que me matas!
- O Duarte tirou férias como já te tinha dito…
- E quando é que ele volta? – Diana sentia o coração começar a aclamar-se.
- Não volta! Receberam ontem um pedido de transferência do Duarte para outro hospital.
    Após uns momentos de perplexidade que se evidenciaram numa falta de conversação momentânea, Diana refez-se da surpresa.
- Para que hospital pediu ele transferência? – Diana tomou consciência que não havendo outro hospital naquela ilha, restavam duas alternativas. Ou ele não tinha aguentado a distância e tinha pedido transferência para Coimbra… Ou ele estava a fugir dela. Diana rezou intimamente para que fosse a primeira hipótese.
- Ele voltou para a Terceira… e não avisou ninguém…
    Diana sentiu o seu mundo desmoronar-se. Todas as suas vontades pareceram-lhe insignificantes face à perda que hoje estava a sofrer. Como é possível deixar-se escapar de uma forma tão tola e até mesquinha aquilo que realmente a faz feliz, aquilo que a preenche totalmente. Quantas vezes um simples sorriso de Duarte tinha sido suficiente para lhe aliviar algumas amarguras? Quantas vezes um simples abraço dele tinha-lhe feito desaparecer tantas mágoas? Quantas vezes um simples amo-te tinha-lhe dado forças para continuar a lutar? E agora? Diana sentia-se vazia, sem norte e sem sul, ela olhou aquele escritório que lhe lembrou tudo o que ela conseguiu alcançar, mesmo sem ter terminado o curso e pareceu-lhe muito pouco comparado com o que Duarte lhe dava. Ela tem desejado e lutado com demasiada força por um lugar no mundo e esqueceu-se de que o melhor lugar para ela era ao lado de Duarte.
- O que se passa Diana? – Bernardo entrou no gabinete de Diana e encontrou um cenário escuro onde a rapariga estava sentada num canto com as pernas encolhidas, e abraçadas por uns braços que tremiam a cada novo soluço.
- Perdi uma parte importante da minha vida! – Diana soluçava e deixava que as palavras lhe saltassem da boca num desabafo libertador. – Hoje eu perdi uma parte importante de mim!
    Sem perceber bem do que se tratava, Bernardo sentou-se ao lado dela e abraçando-a deixou-a chorar. Passado um tempo não contabilizado, mas que se reflectia na dormência dos membros, Diana levantou-se enxugou as lágrimas e contou a sua história com Duarte. Bernardo ouviu-a sentado naquele canto da sala e sentiu-se diminuir a cada relato de Diana. Sentiu inveja daquele homem desconhecido que despertava tantos sentimentos em Diana. Bernardo sentia uma luta interior para não se esperançar com a desgraça daquela rapariga que lhe tomava conta das emoções. Não era correcto felicitar-se com o fim de um romance que podia proporcionar tantas alegrias a Diana. Ele não podia ser egoísta ao ponto de querer enterrar Diana na sua vida estéril. Mas a verdade é que no seu íntimo sentia uma dor lancinante do ciúme e não conseguia deixar de sentir uma satisfação interior pelo fim daquele romance. Ia apoiar Diana no que ela precisasse e aprenderia a lidar com uma amizade sincera sem esperar mais em troca. Quando Diana voltasse a encontrar alguém que lhe preenchesse este vazio amoroso que Duarte lhe deixara, ele aprenderia a aceitar essa nova pessoa na vida de Diana. Esta era uma decisão difícil, mas que Bernardo, contra todos os seus instintos ia seguir.

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