domingo, 30 de setembro de 2012

Capitulo XIII - Nas Asas do Corvo


Capitulo XIII

    O dia decorria como se Vanda estivesse a assistir a um filme da sua vida. Não era ela que estava ali encostada à secretária rígida de madeira riscada ensinando às suas criança como os romanos tinham-se imposto à resistência feroz do povo ibérico. Olhava-os e desbobinava a lição decorada… A sua alma estava presa à expectativa da explicação dessa tarde de segunda feira. Receberia o seu filho em casa e desfrutaria dele sem ninguém por perto. Estava na hora de conquistar a sua confiança, amizade e amor… Precisava de tempo e paciência. Mas ela sabia esperar era metódica e organizava sempre a sua vida passo a passo. Quando se atrevera a sucumbir à pressa de viver perdera toda a sua inocência, e o preço teria de pagá-lo tal qual uma renda vitalícia. Privaram-na de anos de intimidade, de calma, de decisão sobre a sua própria vida… Privaram-na de um filho…
- Por hoje terminamos! Não se esqueçam que temos teste na próxima aula. – A interjeição de desanimo percorreu a plateia em uníssono  E os lábios de Vanda curvaram-se num misto de ternura e prazer.
- Vamos professora! – Matias olhava para ela sem ternura ou amor, apenas com gratidão e expectativa. Esta constatação atingiu-a como um raio. Ele não sentia nenhuma ligação química super sensitiva em relação a ela que o fizesse olhá-la de forma diferente. Não havia uma magia que os ligasse sem dúvidas ou receios. Não sentiam nenhum chamamento de sangue.
O caminho fez-se numa conversa de ocasião e numa passo apressado, uma vez que o céu enegrecia ameaçadoramente.
- O primeiro período está quase a terminar. Achas que vais ter boas notas de forma a receberes a consola que tu queres? – Matias estendeu a sua mão e entrelaçou na mão de Vanda com uma simplicidade corriqueira. Vanda percebeu amargamente que não havia electricidade no toque.
- Acho que os meus pais não me vão oferecê-la no Natal. Eu tenho feito muitas mausuras… - Vanda riu alto.
- Tens feito o quê?
- Mausuras! Eles mandam-me para a cama quando eu não tenho sono e depois admiram-se que eu não vá para o quarto dormir! – Vanda olhou-o expressando dúvida no erguer de uma sobrancelha. - Ontem a minha mãe começou aos berros porque levei o portátil do meu pai e estava a falar com os meus amigos!
- Mas os teus pais não te deixam falar com os teus amigos? – Vanda sentiu uma brecha que ela podia preencher e quem sabe conquistar o próprio filho.
- Acho que eles me querem só para eles! Quando as brincadeiras estão boas lá vêm eles chamar-me para pôr a mesa ou para tomar banho. Tenho sempre trabalhos de casa para fazer e quando não tenho, mandam-me estudar à mesma, ou lavar o carro ou cortar a relva… Nunca me posso divertir.
- Estou a ver! Diz-me uma coisa Matias, o que queres ser quando fores grande?
- Quero levar os turistas a ver baleias com o meu tio Vasco! – O coração de Vanda derreteu-se quando ouviu aquele nome já tão amado.
Vanda sentou-se no balcão da sua cozinha e iniciou a sua explicação particular a Matias. O menino era realmente inteligente… Possuído por uma inteligência impertinente que fazia lembrar Vasco. O olhar matreiro e o sorriso sempre mal disfarçado também eram heranças do tio. Que ideia ridícula. Eles nem eram parentes de verdade…
Matias torcia-se na cadeira e inventava novos temas de conversa a cada minuto que passava. A sua mente passeava deliberadamente por todos os temas que não se ligassem a história e Vanda suspirava desesperada. A campainha tocou salvando-a do abismo.
- Olá Vanda! – Os olhos dela brilharam ao encontrar Daniel à sua porta. Obrigou-o a entrar rapidamente puxando-o pela manga da camisola.
- Este é o Matias! – E olhou para os dois numa expectativa inútil.
-Olá! - Resmungou Matias que deixava o queixo descair sobre a mão dobrada e impaciente.
- Olá! – Devolveu Daniel encolhendo os ombro perante aquele olhar esperançado de Vanda. Ela mordia o lábio e balouçava o corpo ansiosamente fazendo pender de um pé para o outro. Os seus dedos contorciam se nervosamente e os seus olhos arregalavam-se e indicavam a Daniel o lugar onde o menino bocejava de tédio. – Não estou a perceber nada Vanda! – Segredou-lhe Daniel.
- Lembras-te de eu te ter dito ao telefone que tinha um filho! – Vanda vigiou por cima do ombro certificando-se que Matias não ouvia aquela conversa. – É ele Daniel! É este menino… O meu filho.
Daniel arregalou os olhos, não só de surpresa, mas principalmente de temor pelo que a mente de Vanda lhe estava a fazer.
- Olá a todos! – Vasco entrou e franziu o nariz à visita inesperada de Daniel. O seu peito encheu-se quando Vanda lhe dirigiu um sorriso rasgado e lhe depositou um leve beijo nos lábios. Vasco aproveitou para segurá-la pela cintura numa atitude possessiva que não escapou ao olhar perspicaz de Daniel.
- Vamos tio! – Vasco arrumou a mochila atirando todo o material lá para dentro e colou-se ás pernas de Vasco apressando-o a sair.
- Não me dás um beijo Matias? – Vanda baixou-se de forma a facilitar a despedida. Matias depositou-lhe um beijo apressado e ela aproveitou para lhe percorrer os caracóis com a ponta dos seus dedos. Ficou novamente desiludida com a ausência de química.
- Vamos tio! Anda lá…
- Bem! Parece que temos um rapazito ansioso para se pôr na alheta! – Vasco piscou um olho cúmplice ao sobrinho. – Queres boleia Daniel?
- Não! – A resposta seca mereceu um revirar frustrado de olhos em Vasco que se despediu sem vontade de Vanda.
A porta bateu e Vanda deixou-se cair no sofá com um sorriso palerma nos lábios. Daniel olhava-a constrangido pela conversa sincera que teria de ter com ela. Só faltava decidir se assumiria o papel de psiquiatra ou o papel de amigo.
- Achas que ele é parecido comigo? – Vanda deu umas palmadas no sofá, indicando a Daniel que se sentasse.
- Quem?
- O Matias! Que pergunta… - Vanda levantou-se num salto que assustou Daniel. Ela estava relaxada no sofá, começando uma conversa e de repente pôs-se a arrumar o material escolar que estava em cima da bancada. Daniel seguiu-a sem proferir uma única palavra. Ela arrumou os livros numa estante em que estavam vários manuais ordenados por cores e tamanhos. Depois retirou um estojo em pele. Deveria ser para arrumar a caneta preta que ela levava na mão. Mas em vez de a colocar lá dentro, tirou todo o conteúdo do estojo, e começou a recolocar todas as canetas no seu interior. Uma por uma. Todas com as tampas voltadas para cima e com as letras inclinadas para o mesmo lado, encaixando-as num puzzle perfeito. Fechou o estojo e colocou-o dentro da gaveta impecavelmente arrumada. Descalçou as botas e passou um pano pelas mesmas antes de as arrumar numa sapateira em que os sapatos se encaixavam numa harmonia constrangedora. Finalmente voltou para a sala e sentou-se continuando a conversa como se nunca tivesse saído dali.
- Eu tinha medo de ver nele o rosto do outro, sabes? Mas não vejo nada que o ligue a ele. Não tem nenhum traço dele… Por isso acho que ele deve ser parecido comigo, não achas?
Daniel engoliu antes de mergulhar nos problemas daquela mulher.
- Não Vanda! Não o acho nada parecido contigo… - Daniel viu a decepção trespassar-lhe o olhar. – O Vasco sabe?
- Não! – Vanda endireitou-se perante aquela pergunta. Ela não se sentia confortável com aquela tema em concreto. – Eu vou dizer-lhe, mas ainda não tive coragem… Estou a tentar conquistar aquele menino primeiro.
Daniel inspirou fundo. O psiquiatra dizia-lhe para a conduzir para uma terapia profunda, mas o homem sussurrava-lhe que lhe oferecesse amizade. Ela não tinha amigos há demasiado tempo, que a conduzissem ou que lhe dessem o exemplo. Ela não tinha um bom exemplo há demasiado tempo e mesmo assim soube trilhar um caminho confortável e aceitável na sociedade. Só precisava de orientação, porque os seus olhos mostravam confusão… Mas a loucura é mais profunda do que a confusão…
- Como é que tu sabes que o Matias é teu filho?
Vanda voltou a recostar-se no sofá. Aquela linha de conversa já lhe era confortável. Ela queria muito laços que a ligassem a pessoas. Já não tinha nenhuma relação familiar e estava a tentar compensar.
- Antes de tirar o curso investiguei! Tornei-me amiga de um enfermeiro da maternidade onde dei à luz o Matias – Daniel engoliu ao ouvir aquela falsa afirmação – e consegui saber todos os nascimentos registados naquele dia…
- No dia em que deste entrada na maternidade em trabalho de parto?
- Sim!
- E tu lembras-te da data? – Daniel estava surpreso.
- Vinte e sete de Agosto do ano dois mil… Foi quando o meu Matias nasceu!
Sim… Foi naquela data que Daniel acompanhou Vanda de urgência até à maternidade e lhe segurou na mão enquanto ela rangia os dentes a cada contracção.
- Como é que podes ter a certeza de que ele é teu filho Vanda? Existem outras vidas e outras histórias em jogo… Não te podes precipitar. Deves primeiro arrumar a tua cabeça. As coisas têm de estar muito claras antes de qualquer decisão da tua parte. Uma atitude depois de tomada, nunca mais poderá ser retirada  quando muito pode ser perdoada, mas jamais esquecida.
- Eu sei Daniel! Como te estava a contar, naquele dia nasceram cinco crianças. Três raparigas e dois rapazes. Apesar de ter uma memória muito turva daquela dia, eu sei que dei à luz um rapaz. Eu vi-o… Olhei-o tão pequenino, tão frágil… Era um rapaz… Tenho essa imagem clara na minha mente. Ele a passar nas mão cobertas por umas luvas alvas ensanguentadas… Muito pequenino… é a única imagem que não está turva na minha mente, Daniel. Era um rapaz…
- Mas dizes que nasceram dois rapazes nesse dia?
- Sim! Deixa-me continuar… Tinha as minhas opções reduzidas a dois rapazes. Já tinha passado muito tempo e resolvi não me precipitar. Tirei o meu curso de história com distinção, assegurando-me que ficaria colocada sempre na minha primeira opção. E assim escolhi Vila Real, porque o outro rapaz era de lá. Conheci o pequeno Pedro! Era um terrorista… - Vanda sorriu com o olhar perdido numa dimensão distante. – Houve uma empatia imediata. Eu não fui professora dele, mas ele tinha dificuldades eu ofereci-me para o apoio escolar de forma a ficar mais perto dele. Aquele menino viva num ambiente familiar degradado Daniel… O pai era alcoólico e a mãe paria como quem vai de férias, uma vez por ano. Eu desejei muito que fosse ele o meu filho. Sonhei dias e noites em resgatá-lo daquela vida… Mas não era ele. Numa aula de apoio fiz uma pequena brincadeira com os meninos. Montei um cenário tipo CSI e transformei-os em investigadores. Entreguei um Kit a cada menino que tinha uma haste parecida com um cotonete. Cada um deles raspou o interior da bochecha com aquela haste comprida e colocaram novamente dentro do Kit esterilizado. Mandei o Kit do Pedro para fazer a análise de ADN, juntamente com uma amostra minha e o resultado foi negativo… - Daniel sentiu tristeza na sua voz e aproximou-se dela pegando-lhe na mão. Acariciou-lhe os nós dos dedos. – Por isso só pode ser o Matias!
- Vanda!
- Sim…
- Eu estive contigo naquela noite… Na maternidade! – Daniel sentiu que Vanda tinha voltado a concentrar a sua mente nele. – E tu deste à luz um filho… Um rapaz… Que morreu!...

domingo, 16 de setembro de 2012

Capitulo XII . Nas Asas do Corvo


Capitulo XII

Não existe um sentido definido e claro para a vida. Existem momentos que nos indicam que estamos no caminho certo. Momentos em que a felicidade transborda da alma e sente-se fisicamente em cada poro da nossa pele. Aquela manhã era mais do que uma felicidade… Era uma certeza firmada nos braços certos e no sorriso iluminado que dava os bons dias.
- Dormiste bem? – Vasco sentia uma dormência boa no braço onde o corpo nu de Vanda repousava.
- Melhor do que se tivesse tomado os comprimidos! – Ambos riram e o rubor do embaraço cobriu o rosto de Vanda. Vasco afagou-lhe aquele rubor com o lábios e soube que ali estava o seu fututo. Vasco levantou-se primeiro, adivinhado o atraso de Vanda. Não queria que o seu constangimento estragasse ou fizesse regredir aquele passo tão importante. Vanda tinha-se aberto a ele como nunca tinha feito a ninguém.
Aquela nova descoberta na vida de Vanda durou o fim de semana inteiro, tranformando aquele pequeno apartamento no seu mundo desejado. Não precisava de mais nada naquele exacto momento. Só os ignorantes podem restingir a felicidade a coisas grandiosas e pretensiosas. Só os infelizes podem saber antecipadamente onde encontrar a verdadeira felicidade levando-os a buscas intermináveis e condenando-os a uma miséria de sentimentos interminável. A felicidade surge de pequenas coisas em momentos não esperados e de uma forma tão subtil que quando nos apanha de alma aberta é tão arrebatadora, que depois de experimentada nunca mais é confundida com outro sentimento.
- O fim de semana está a acabar… - Vasco estava sentado brincando com os caracois negros de Vanda espalhados no seu colo. – Dava um ano da minha vida para prolongá-lo por mais um mísero dia! – Ambos sorriram.
- Eu estou feliz Vasco! Nunca imaginei dizê-lo em voz alta… Muito menos senti-lo. – A magia do momento fazia adivinhar um inclinar lento e desejado dos rostos, mas a realidade da vida trouxe-os de volta num bater de porta insuportável.
- Já vai! – Vasco levantou-se sem vontade.
- A Vanda está em casa? – O olhar de Daniel cruzou-se com o olhar brilhante e febril de Vanda que deixava transparecer aquele fim de semana, atingindo-o como um soco seco no estômago. – Olá Vanda! Acho que deviamos conversar…
- Tens razão!
Vasco saiu deixando-os sozinhos e desejando que todas as feridas de Vanda se curassem. Daniel sentou-se numa extremidade do sofá e entrelaçou os dedos das mãos. Sentia-se nervoso.
- Em primeiro lugar, e para que esta conversa possa correr da forma correcta, quero que saibas que eu não te persegui de uma forma perversa.
- Eu no fundo sei disso… Mas por vezes… Nem consigo explicar bem, mas extistem certas atitudes de pessoas ou palavras que me despertam um medo sufocante… E sinto como se os meus nervos fervilhassem e os meus múscolos exigem uma atitude da minha parte… Não consigo explicar muito bem…
- É a primeira vez que te abres comigo!
- Foste meu psiquiatra durante demasiados anos… Eras demasiado oficial para que eu pudesse falar contigo. Houve alturas em que desejei fazê-lo.
- Devias tê-lo feito! Eu soube a tua história toda… Podia ter-te ajudado a lidar com os teus medos.
- Tu não soubeste a história todo Daniel… Esse foi o grande problema!
Daniel focou os olhos marejados de Vanda e percebeu que ela falava verdade. Aproximou-se sem nunca desviar o olhar, examinando qualquer sinal de alerta que lhe indicasse novo ataque de pânico.
- Então conta-me agora! Eu preocupei-me contigo para além do que a psiquiatria exigia… Dediquei-me a ti durante todos estes anos. Acompanhei-te sempre ao longe, enviando-te cartas a marcar nova consulta sempre que sentia que precisavas e no final de todas essas consultas sentia-me vazio e frustrado… Eu sonhava com o dia em que confiarias em mim e abririas a tua alma para que eu a pudesse reparar… Mas esse dia nunca chegou. Houve uma altura em que pensei que estivesse apaixonado por ti! – Daniel baixou os olhos perante aquele olhar de Vanda demasiado intenso. – Até à pouco tempo…
- Desculpa Daniel! Nunca imaginei tal coisa… Nem sei bem como devo sentir-me relativamente a toda esta situação… Até há pouco tempo eras o meu psiquiatra e eu só pensava na tua pessoa associada ao hospital… é verdade que sentia a tua preocupação sincera, mas não podia arriscar… Não podia…
- Arriscar o quê?
- Eu não o matei em legítima defesa…
Todas as certezas de Daniel relativas àquele caso desmoronaram. Ele estava frente a frente com novos factos e devia saber como lidar com o imprevisto. Afinal Vanda era sua paciente e ele devia tratá-la como tal e não olhá-la com olhos acusadores.
- Conta-me a tua versão! – Daniel manteve a proximidade, mas Vanda viu o seu olhar gelar. Inspirou fundo e soube que chegara a hora de se abrir. Mesmo que isso significasse assumir que era uma assassina.
- O homem que eu matei era meu tio…
- Eu sei! – Daniel interrompeu-a arrependendo-se logo de seguida, mas sentiu uma necessidade quase fisica de afirmar em voz alta que ele dominava aquele caso.
- E… Naquela noite... – Vanda sentiu que a garganta se apertava. – Não foi a primeira vez… Nem a segunda, nem tão pouco a terceira. Aquele porco investia sobre mim como um animal sempre que podia e transpirava como um cavalo e rugia uma satisfação pérfida… E aquele hálito… ai aquele hálito podre de um vinho tinto amargo – Vanda explodia as palavras sentindo uma raiva que julgava controlada apoderar-se dela e os olhos raiaram-lhe de sangue e as lágrimas soltaram-se numa convulsão de choro. Daniel abraçou-a. Ela não precisava de calmantes, nem de químicos… ela precisava de terapia, e ele iria ajudá-la… como psiquiatra e amigo.
- Pronto! Por hoje chega. Acabamos esta conversa noutra altura!
Vanda começou a rir de uma forma histérica que fez Daniel duvidar da sua saúde mental.
- Eu vou ensinar-te uma coisa que percebi no hospício… Isso que tu acabaste de fazer está errado!
- O quê?
- Quando uma pessoa finalmente se abre e solta de uma vez todos os sentimentos e sensações que tem acumulados dentro de si, os psiquiatras acham que a sessão está terminada… Está errado… Curar uma ferida da alma é mais do que o que vem nos livros ou do que os procedimentos que devem ser seguidos perante determinada reação do doente. Eu via no hospital os doentes tentarem dizer-vos isso aos berros, mas acabavam sempre em camisas de forças, drogados com pesados sedativos. Devias ter-me olhado nos olhos e ter percebido que fazer isto foi doloroso e não me devias sujeitar a isto novamente, porque se o fizeres, aí sim eu vou dar em doida… já imaginaste o que é para alguém que tem um desgosto destes dentro de si estar sempre a expô-lo aos poucos e quando finalmente começa a deixá-lo sair, o médico interrompe o processo e exige que se comece novamente no dia seguinte… Isso é cruel e muitas vezes conduz a actos de loucura… Ai como eu percebia alguns doentes que vos ameaçavam… Primeiro abrem a ferida e depois, ou porque houve uma exaltação, ou porque a hora da consulta passou, deixavam a ferida aberta a sangrar… Para voltar a abri-la somente quando começa a sarar…
Eis uma lição que Daniel não aprendeu na faculdade. Olhar nos olhos… era o que ele estava a fazer neste exacto momento. Estava a olhar aqueles olhos negros e profundos que choravam lágrimas e muito mais. Aqueles olhos que não era justo voltar a vê-los no dia seguinte… Aqueles olhos sábios e sofredores que lhe imploravam uma libertação incompreendida.
- Tens razão Vanda! Os abusos começaram como e quando?
- Vou contar-te a minha história! – E Vanda contou. Contou com a emoção da culpa que arrastava como grilhões pesados. Primeiro a sua infância feliz em Paris. A simplicidade de enchia os seus dias num prédio em que a mãe era porteira e empregada de limpeza, porque na infância percebemos melhor o que é simples, mas com a idade vem o gosto pelo elaborado e a capacidade para invejar a vida dos outros, e de repente a simplicidade deixa de ter lugar, e o facto de ser filha da porteira deixa de ser confortável e passa a ser vergonhoso. Vanda contou a discussão que lhe percorria a mente com demasiada frequência torturando-a e que antecipou e provocou o acidente dos pais que morreram lutando pelo melhor para uma filha ingrata que os rejeitou. Vanda chorou… Gritou… desejou poder voltar àquele dia fatídico. Os promenores da vida em comum com a avó foram despejados com uma saudade sentida como se aquela passagem fosse chorada num fado profundo acompanhado por guitarras sofridas. Ela gostava da avó… Sempre a respeitou, apesar de a ter manipulado para conseguir uma liberdade libertina… E quando Vanda contou como o tio tinha entrado na sua vida por convite seu, Daniel também chorava. A primeira violação foi contada pela segunda vez àquele psiquiatra que a ouvia com ouvidos de amigo e não de médico. As repetições foram envolvidas de raiva e desejo de justiça… E o lema de vida de Vanda foi dito pela enésima vez durante aquele discurso alertando o psiquiatra que havia naquele homem choroso.
- Os abusos nascem dos excessos de confiança… A culpa foi minha, Daniel… só minha. – Daniel não se sentia capaz de a confortar… Só a podia ouvir naquele momento. – Naquela noite, eu estava sozinha… e ele sabia… ele sabia sempre… A minha avó estava na casa mortuária a velar o corpo de uma vizinha que tinha falecido, e como era tradição passaria lá a noite toda a rezar. Eu estava a comer cereais sentada na mesa da cozinha a ver um filme qualquer na televisão. E eu senti-o atrás de mim, antes mesmo de o ver… antes de o ouvir… Era aquela presença que me estrangulava, que me punha a alma e o corpo a tremer. Levantei-me de um salto e tentei fugir, mas ele agarrou-me o braço com uma força desnecessária. Eu gritei… E senti um desespero que não consigo explicar… Eu sabia o que ele ia fazer… eu sabia, mas não queria… Lutei contra ele com todas as minhas forças, com o punho solto, com os pés… Sacudi-me de todas as formas e gritei… Mas ninguém acudiu… Ninguém ouviu… Nunca ninguém ouvia… Ele acalmou-me com um soco de punho fechado que me acertou numa dor aguda e atirou-me para o chão exctamente como ele queria. Ele baixou-se sobre mim e eu senti-me sufocar naquele cheiro nauseabudo… E arrancou as calças do pijama e as cuecas ao mesmo tempo… E eu lutava… eu juro que lutei… Dei-lhe pontapés mordi-lhe a orelha até sangrar e ele rugia e ria alto… então arrancou-me a camisola e mordeu-me o seio… Eu senti os dentes dele entrarem-me na carne e uivei de dor… Agarrei-lhe o cabelo… Lembro-me que fiquei com um pedaço de cabelo colado na palma da minha mão… Mas ele não se afastou e penetrou-me à força como fazia sempre… Arranhei-lhe o peito e ele socou-me o estomago, as costelas e a cara… Parei de lutar… E ele começou a arfar… ele estremeceu… deixou-se cair estafado em cima de mim… e depois levantou-se… Eu sentia uma angústia e uma raiva rancorosa por não me poder defender… Olhei aquelas costas flácidas e peludas e jurei para mim mesma que ele nunca mais me tocava… Levantei-me com esforço, passei a mão por cima do balcão e lá estava a faca… Uma faca grande e bem afiada que a minha avó utilizava para esquartejar o porco… a faca adequada para ele… Ele não ia repetir aquele acto naquela noite… Eu sabia-o porque ele nunca o fazia… e eu estava com aquela faca na mão e ele estava de costas. Chamei-o e ele virou-se… Eu queria ver-lhe os olhos quando eu lhe espetasse a faca… E eu vi os seus olhos abrirem-se de espanto e senti que os meus lábios sorriam… Enfiei-lhe a faca com todas as minhas forças e admirei-me como a faca escorregou facilmente pelas suas carnes… Os meus dentes estavam cerrados e sentia um calor percorrer-me o corpo… Tirei a faca e voltei a espetar… E senti aquele corpo imundo desfalecer e cair de joelhos e a faca que eu segurava deslizou pelo peso daquele corpo inerte… Os olhos dele estavam sofridos e eu senti-me vingada… - Os olhos de Vanda já não choravam. Pararam de chorar quando ela começou a relatar aquela noite fatídica. Pelo contrário, eles brilhavam de uma forma quase doentia, como se ela não estivesse ali naquela sala. Daniel soube que ela estava presente quando ela lhe ferrou um olhar negro e intenso. – Depois eu peguei no telefone e chamei a polícia. Disse-lhes apenas que tinha assassinado um homem e dei a morada. Depois disso nunca mais falei. Ouvia a policia e especular… E quando eles formaram a ideia de que eu o tinha matado porque ele ia fazer uma nova tentativa de violação, eu deixei que essa ideia se firmasse… E assim eu matei-o porque quis. Se não o tivesse feito ele tinha saído porta fora e ainda estava vivo… Daniel?
- Sim!
- De toda a história que te contei, este acto é o único que não me causa arrependimento.

sábado, 8 de setembro de 2012

Capitulo XI - Nas Asas do Corvo


Capitulo XI

O caminho foi feito em silêncio. A vila do Corvo distanciou-se da traseira da carrinha e Vanda sentia em cada metro de distância daquele aglomerado de casas o peso da solidão e um silêncio profundamente ensurdecedor chiava-lhe no ouvido e fazia-a torcer os dedos da mão nervosamente. Não houve necessidade de dar indicações do caminho. Afinal havia apenas um caminho que saía da Vila.
Daniel saiu da carrinha e o seu coração parou por uma fracção de segundo. Sem conseguir explicar se aquela reacção se devia à imagem de Vanda a sair da carrinha com os braços cruzados e o vento a favorecer-lhe o cabelo selvagem ou à imagem daquela cratera pacífica que recebia um festim de verde.
- É de cortar a respiração!
- A primeira vez que vim aqui também senti uma emoção profunda. Não existem palavras capazes de descrever o Caldeirão com justiça… apenas podemos admirar e sentir com todos os nossos sentidos. – Vanda sentou-se na erva húmida sem medo das nódoas que deixaria nas calças. Nem pensou nisso. E quando finalmente lhe ocorreu que provavelmente mancharia as calças de forma irremediável limitou-se a rir alto.
- Estás a rir-te de quê? – Daniel admirava-lhe aquele riso estridente. Nunca tinha presenciado aquela Vanda… Percebia agora que nem sabia como era a sua voz antes de lhe falar pela primeira vez ao telefone. Começava agora a descobrir uma nova mulher, não muito diferente das outras.
- Esta ilha está a curar-me doutor!
- Já que eu não o consegui… - Vanda percebeu a frustração na voz de Daniel e pousou uma mão compreensiva no seu ombro. – Fala comigo Vanda… Diz-me o que te vai na alma… Diz-me o que te passou pela cabeça durante todos estes anos… Acompanhei-te naquele dia fatídico e depois no hospital durante anos. E depois disso nas consultas periódicas e nunca me dirigiste palavra. Porquê?
Vanda calou-se e Daniel sentiu que a estava a perder novamente.
- Eu tenho-te acompanhado sempre… Sempre Vanda… Mesmo quando tu não me vias nem sentias. Enquanto tiraste o curso de história… Ias às consultas periódicas, mas nos intervalos eu vigiava-te ao longe. – Vanda retirou a mão do ombro. – Fizeste um percurso académico brilhante… Brilhante. Eras metódica e organizada, mas nunca te vi sorrir como agora. Mesmo quando estiveste em Vila Real a dar aulas eu acompanhei-te de longe… e depois vieste para aqui. Podias ficar colocada onde quisesses Vanda, mas vieste para aqui por opção tua. Sim, eu sei que esta foi a tua primeira opção… Porquê? Porque é que te esforçaste tanto para seres uma aluna de excelência, se a tua primeira opção seria este ilhéu?
- Devia sentir-me assustada com seu discurso doutor Daniel…
- Por favor Vanda! Não era minha intenção…
- Como é que queres que fique… andaste a seguir-me de uma forma estranha. – Vanda arregalou os olhos num medo que lhe gelou o sangue… - Daniel…
- O que foi? – Ele era psiquiatra e como tal soube que alguma coisa em Vanda se tinha colocado em alerta.
- É contigo que tenho estado ao telefone? Claro que é… Desde que tu chegaste que o telefone nunca mais tocou. – Vanda levantou-se e sentiu que estavam a forçar novamente uma entrada na sua vida. O pânico atormentou-lhe as entranhas e as suas pernas ganharam a força do medo e saltaram como uma mola, seguindo-se uma corrida alucinante.
- Vanda… espera Vanda! Não é o que estás a pensar… eu nunca te faria mal… Por favor Vanda! – Daniel levantou-se e correu, mas ela parecia feita de vento e afastava-se a cada passo. Daniel sentia os pulmões arderem do esforço e desistiu de a perseguir. Voltou para a carrinha e fez o caminho de volta à procura de Vanda. O céu azul cobriu-se de um manto cinzento que não se fizera anunciar e a chuva caía num frenesim que aguçava o nervosismo de Daniel. Ele fez aquele caminho seis vezes, e em cada uma das vezes o desespero crescia-lhe dentro do peito. Desistiu de procurá-la sozinho. Encostou a carrinha e ligou a Vasco.
- Estou! Vasco!
- Sim…
- Ela desapareceu…
- Como assim ela desapareceu? Isto é uma ilha, e muito pequena por sinal… - Vasco sentia-se ferver de fúria contra Daniel. – O que é que lhe fizeste?
- Não fiz nada… Juro! Por favor ajuda-me a procurá-la… Nós estávamos no Caldeirão e ela saiu a correr… Já fiz este caminho inúmeras vezes, mas não a encontro.
- Eu vou até a casa dela…
Vasco desligou o telemóvel sem se despedir. A sua atenção, os seus sentidos, o seu coração palpitavam na direcção de uma boa noticia que lhe aliviasse aquele peso que sentia nos olhos. Onde estaria ela e em que condições? Não se podia permitir a perdê-la… Não agora que sentia a certeza de um futuro correr-lhe nas veias e em que o desejo do quotidiano repetitivo e previsível parecia satisfazer-lhe todos os seus sonhos a longo prazo. Ela era forte e tinha aquele ar altivo que lhe cobria uma fragilidade digna de um fino cristal que se desfaz em mil pedaços no mais pequeno embate. A vida constrói-se num sucesso de acontecimentos, porque uma acção só se corporiza depois da fracção de segundo em que é decidida. E é aquele acontecimento que vai sedimentar mais um pouco a vida. Aquele acontecimento e não outro, tal como numa corrida de espermatozóides… Só um é vencedor… E os acontecimentos constroem uma vida forte e solitária se forem resultante apenas de boas decisões, ou uma vida frágil e pouco digna se resultarem exclusivamente de más decisões… Do contrabalanço de ambas é que resulta a vida harmoniosa e sábia, porque é necessário haver um boa dose de decisões erradas para as decisões certas serem apreciadas e adoptadas. Vasco sente que é altura de Vanda aprender com as decisões erradas e valorizar as certas de forma a solidificar a sua vida em torno da vida dele e juntos construírem algo forte, sensível e longo.
- Vanda! Estás aí? Responde… Bolas! – Vasco procurava Vanda nas entranhas da pequena casa. Estava tudo irrepreensivelmente limpo e arrumado. Assim que ele abriu a porta soube que ela não estava ali. A sua pele não a sentiu…Mas a sua mente não queria correr riscos e ele procurou-a desesperadamente. Não estava em casa. O telemóvel tocou e ele atendeu numa antecipação frenética.
- Estou!
- Olá Vasco! Sou eu a Catarina… Estou a ligar-te porque achei que devias saber que a Vanda está aqui
Vasco fechou os olhos e deixou que o alívio se apoderasse do seu corpo.
- Ela está bem?
- Não sei bem o que te diga Vasco! Ela apareceu-me aqui toda suja de lama, molhada até aos ossos, a bater o queixo de frio. Ainda não disse uma palavra!
- Eu vou já para aí! Mantém-na quente.
- Ela está a tomar um duche quente neste momento e eu vou preparar-lhe um café quente e massa sovada…
- Obrigada Catarina! De coração…
Vasco permitiu-se a uns minutos de sossego no sofá já conhecido do seu corpo mole que começava a relaxar. Sentira medo de perdê-la. Não… Medo não. Pânico. Tinha que digerir aquele sentimento com calma e assegurar-se de que ela não ia a lado nenhum. Precisava de se aclamar. Não podia chegar ao pé dela naquele estado, com uma respiração ofegante de nervos.

- A roupa ficou-te lindamente! – Catarina olhou para Vanda com um olhar que lhe perscrutava o rosto com uma preocupação disfarçada em simpatia. Vanda conhecia aquele olhar. Tinha vivido anos de manicómio com aquele olhar nas enfermeiras, nos médicos e nas auxiliares e um arrepio do passado percorreu-lhe a espinha. Sentiu que Daniel a queria forçar a algo que ela não queria… fosse o que fosse… Era ela que mandava na sua vida e nunca mais permitiria abusos da sua intimidade.
- Obrigada Catarina!
- Não tens de agradecer! Senta-te aqui comigo e faz-me companhia no lanche. – Catarina sentou-se e indicou-lhe o lugar à sua frente. O café emanava um aroma quase irresistível.
- Não quero incomodar mais.
- Não incomodas nada! É sempre bom ter uma companhia feminina. – Catarina piscou-lhe um olho confidente que arrancou um sorriso livre a Vanda. E ela sentou-se e rodou a chávena de café quente com as palmas da mão absorvendo o calor. – Liguei ao Vasco para te vir buscar. Eu levava-te a casa, mas não tenho carro. – A gargalhada em uníssono das raparigas partilharam a piada muda naquelas palavras. Vanda agradeceu-lhe com os olhos o facto de ela estar a tornar aquela situação fácil.
Vasco entrou na guest house conhecedor do caminho e encostou-se à ombreira da porta apreciando as duas mulheres sorridentes que conversavam assuntos corriqueiros. Vanda tinha os caracóis molhados e despenteados que lhe caiam pelas costas exibindo um rebeldia desafiadora.
- Olá meninas! Têm lugar para mais um? – Vasco sentou-se sem obter uma resposta positiva. A conversa descontraída arrancava sussurros maldosos seguidos de gargalhadas e Vanda só parou de sorrir quando os seus olhos encontraram os de Daniel que entrara todo molhado e que estacara diante deles com os olhos inchados de remorso. Vanda soube que não tinha sido justa na sua interpretação, mas por vezes o medo surgia-lhe com uma força que ela não conseguia explicar e o seu corpo tremia de um pânico avassalador e inexplicável.
- Olá Daniel! Estás encharcado… Parece que isso virou moda… Mas olhem que não é lá muito confortável. – Catarina soltou uma gargalhada confortável e pegou no braço de Daniel conduzindo-o para fora da cozinha. – Vou dar-te umas toalhas bem cheirosas, tomas um banho quente e depois juntas-te a nós.
Vasco seguiu-os com uns olhos desconfiados, e quando teve a certeza de que estava sozinho com Vanda, esticou as mãos sobre a mesa e entrelaçou os seus dedos nos dedos dela. Desde que chegou à residencial que tinha vontade de lhe tocar.
- Estás bem? – Vasco sussurrou aquela preocupação.
- Agora estou! – O sorriso fácil que Vanda lhe dirigiu encheu-o de uma vontade qualquer que não conseguia precisar.
- Vou levar-te a casa!
- Vamos…
O caminho fez-se no sussurro da chuva que acariciava o carro e dava ao momento uma surrealidade sentida apenas pela dormência da paixão. Não houve uma palavra trocada, uma carícia, apenas uma química que eriça os pelos e deixa todos os sentidos em alerta. Vasco estacionou a carrinha e correu com os seus braços dormente que protegiam da chuva o corpo encolhido de Vanda. Entraram em casa e sacudiram os cabelos. Vasco deixou que a ponta dos seus dedos descessem pelo ombro de Vanda percorrendo sem pressa o braço e fazendo-a soltar a mala sem se preocupar com o conteudo que se espalhara. Vasco aproximou o seu corpo do dela e sorriu com a percepção de que se encaixavam perfeitamente. Entrelaçou os seus dedos naqueles caracois rebeldes e acariciou-lhe a nuca. Sentiu o seu ego masculino encher-se quando Vanda revirou os olhos num arrepio de prazer. O seus lábios roçaram-se sem pressa. E lentamente, como se estivessem a soborear uma iguaria rara, foram aprofundando um beijo longo que lhes tocou a excitação do corpo e o consolo da alma. Os corpos uniram-se como se se tratasse de um único ser e as dores libertaram-se com a roupa. A meiguice dos gestos culminaram com a honestidade dos sentimentos enquanto Vasco percorria aquele corpo tão desejado com uma experiência nervosa fundindo-se na intimidade dos corpos e do olhar. As atenções não se desviaram uma única vez daquele acto consentido deixando que a pele de ambos se deslumbrasse com o prazer do momento. Quando Vasco se deitou finalmente extasiado ao lado de Vanda e a envolveu num abraço profundo e num amo-te sussurado, Vanda fechou os olhos e pensou. Como poderia o mesmo acto ser sentido de forma tão diferente? Amor e violação…